A DEMOCRACIA À PROVA

A comunicação social mostra, diariamente, imagens inquietantes de uma democracia ameaçada por toda a parte, neste final de século, por vezes, de contornos violentos, nomeadamente nos antigos países comunistas ou nos países muçulmanos. E, muitas vezes, de modo insidioso, particularmente na França e na Europa Ocidental. Ameaças importantes como os lampejos nacionalistas recuperados pela extrema-direita, o regresso do populismo a par de uma crítica demagógica ao Estado e aos políticos, o aumento da etnicidade, rapidamente relacionada à pior das barbáries e às práticas de «purificação étnica». Michel Wieviorka demonstra, neste ensaio de grande clareza, que, embora as ameaças à democracia sejam reais, as suas dimensões são demasiadamente exacerbadas. Com efeito, aqueles movimentos podem, de facto, apresentar tanto uma face sombria como uma iluminada: a consciência nacional incentivou frequentemente, no passado, projectos de modernização económica e de reforço da democracia: o populismo não significa obrigatoriamente uma atitude passadista, podendo mesmo reclamar uma maior participação popular na construção da modernidade. E, quanto à etnicidade, se evitar as armadilhas da violência ou do fechamento comunitário, pode representar o esforço desenvolvido pelos actores para afirmarem a sua identidade, ao mesmo tempo que se inserem plenamente na vida da cidade. Esta é uma obra fundamental porque nos convida a resistir à confusão das ideias, ao cinismo, ao desencorajamento e ao sentimento de impotência perante as extraordinárias mutações do mundo contemporâneo.