POR MIM PASSA UM VENTO
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«Não sei porque buscar uma sede que não se tem Não sei porque quanto se mais bebe Menos mais se mata
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«Não sei porque buscar uma sede que não se tem Não sei porque quanto se mais bebe Menos mais se mata a sede» Na poesia de A. Oliveira Cruz encontramos as grandes preocupações filosóficas do nosso tempo: o sujeito/objecto, o sujeito/vida e o sujeito/tempo. A esta poética do sentir e do pensar molda-se uma estrutura plasticizante de redondilha, de estrofe popular que assenta na legitimação do que de mais ôntico reside na cultura portuguesa secular. Esta poética é inovadora na contemporaneidade tendo em conta a exorcização do lado mais escatológico do tempo e da vida porque «Tão logo um Homem que nasce / já é velho pra morrer / como se o Tempo parasse / sobre o acto de nascer…» Também é toda ela dedicada à vida, na sua contradição absoluta, na sua realidade inolvidável: «Quando o mundo não se oferecer / cria-se ente si / um mundo / nós um mundo em cada mão / cada mão mundo que dá» Habituados que estamos aos poemas de verso longo não nos habituamos a formas mais originais de assumir o universalismo poético em outro tipo de versos. A poesia do autor não é só interrogação e síntese em torno das grandes problemáticas do nosso tempo: é ainda, e sobretudo, subversão da palavra, com a introdução de neologismos, de palavras que não são dicionarizáveis e que estruturam elas próprias uma outra forma de dizer português. Dificilmente enquadramos o poeta numa escola, numa geração literária. O que nos deixa mais perplexos. Transforma-se numa espécie de heterodoxia da poesia da modernidade, postura difícil de assumir se nos enquadrarmos numa sociedade onde tudo é padronizável e tudo se assume numa corrente ou num escol. Esta poética assume a filosofia do pensar e do sentir e como tal é ela própria uma desconstrução, uma intrusão no domínio do transcendente/imanente e de um Eu que é o Outro. Falar na poesia do tempo, do sujeito e da vida é questionar a nossa posição enquanto humanos na esfera do transcendente. O poeta vive a efemeridade da condição humana e procura mais, Deus. Poesia da vida e por ela: o amor é um tema constante. Seja na relação com o outro, seja numa perspectiva da natureza e do ambiente que nos rodeia, «Sou um corpo aberto / interminável fechado / sobre o que de limite / já não pode Ter». É urgente que esta poesia seja lida, não só pelos leitores solitários da poesia em geral, mas também por todos os que vivem na sombra de um estar indefinido, procurando algo que não encontram. Uma sugestão: que esta poesia comece a ser conhecida nas universidades, sobretudo nos cursos que se debruçam sobre a cultura e a literatura portuguesas.
Peso | 0.298 kg |
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ISBN Oficial | 9789728407438 |
Editora Oficial | Edições Piaget |
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