O REFLEXO DE DEUS

No surgimento da obra Cantares de Amigo, o autor debruçou se na sua análise para tecer algumas considerações acerca de um momento peculiar no percurso poético de António Oliveira Cruz e da permanente capacidade de renovação da sua estesia criadora. A poesia aqui é descrita como um fenómeno, porque a génese da sua elaboração se perde no limite indeterminado de uma ontologia que se relaciona e confunde com uma dimensão simultaneamente espiritual e material, sem no entanto perder o seu perfil inetafisico. Esta suposta matefialidade afigura se visível na percepção do amor humano ao longo do processo poético. Segundo o autor, a poesia de António Oliveira Cruz surge como um libelo a favor do humanismo, um libelo pleno de força e de coragem perante as adversidades da existência. Existe na sua poesia a sombra consoladora de um humanismo milenar que nos ilumina por dentro, existe a força irradiante de uma voz enigmática cuja origem desconhecemos. Em Cantares de Amigo, reconhece se a escrita co relação entre a intencionalidade poética subjacente à vontade humana e a luminosa e transcendente voz de um deus desconhecido. Esta divindade universal que confere a dimensão sobrenatural a todas as crenças que a história humana testemunha. Cantares de Amigo irradia pujança eidética, ou seja, a virtual capacidade de criar elementos conceptuais que conduzem o leitor a uma expressão do conhecimento do real através de uma imagética constantemente renovada. É um trabalho poético que irradia uma expressão do saber pleno de dimensão simbólica. Simbolismo que mergulha as suas raízes na tradição poética peninsular e exprime um alcance histórico cultural bem remoto, pois possui o reflexo explícito do Antigo Testamento e do Saber nele contido.